segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Apresentação do projecto

Introdução

Após as experiencias anteriores como a Casa das Artes em Famalicão, logo se desenhou um novo projecto musical não menos pedagógico e de formação académica mas com um direcção e objectividade sublinhada e apadrinhada pelas instâncias ali presentes.
O Fado torna-se acima de tudo numa expressão cultural e de identidade de um povo, de uma alma. Talvez o seu significado “destino”, seja ele mesmo o objectivo de o praticar, de levar através das músicas e das letras escritas uma mensagem, uma encenação, um levar a uma poética descrição de sentimentos, de formas de expressão de um povo com determinadas características.

Por outro lado e no caso particular do Fado de Coimbra, porque este sempre se manteve na sua esfera académica, outrora reflexo e identidade da academia de Coimbra, mas logo representativa de uma larga academia nacional e estudantil, sem a veleidade de se tornar comercial, ou de ter a ambição de o ser para se mostrar.

Reservado à esfera daqueles que viveram uma vida académica e que mais tarde seguem a sua profissão, a sua área para a qual dedicaram anos de estudo, restou e ficou a vontade de se exprimir através da música, apenas o gosto e paixão por esta, pelas suas letras e por tudo que o Fado de Coimbra em si encerra.

A Academia de Coimbra teve por sua vez um papel preponderante em vários momentos no panorama nacional e musical. Nacional porque talvez a irreverência e contestação de uma população estudantil levou através da música o expressar e fazer valer a sua voz, recordando Adriano Correia de Oliveira ou Zeca Afonso, ou outros que deles e com eles marcaram momentos conturbados da vida nacional.
Musical porque sem dúvida marcaram, pela música, um estilo uma forma característica de fazer e reler músicas provenientes de várias origens ganhando contornos próprios e consequentes. Quando falamos de origens, estamos precisamente a introduzir ou relembrar algo por vezes esquecido ou que passa de uma forma subtil e que urge a nosso ver retomar e ressalvar. Ganhando contornos próprios porque hoje, não faz sentido balizar e definir o “Fado de Coimbra” apenas por um estilo musical próprio de uma academia. È acima de tudo um conjunto rico em sonoridades, em influencias e sub estilos que queremos com este projecto apresentar.

O Fado de Coimbra


Aquilo a que chamamos de “Fado de Coimbra”, expressão em tempos contestada por uma massa estudantil que queria apenas chamar até si o direito de a viver, substituída por “Fado Académico”, ou “Fado do Estudante”, ou ainda “Canção Coimbrã”, ou outras formas de o expressar, não é mais do que, por um lado dificuldade em balizar no “Fado” toda a sua expressão, com o estilo e características definidas, e por outro lado o facto que esta expressão (agora com menos contestação como menor é o animo, impulso ou animosidade da vida académica) criou em seu tempo uma disputa por direitos reservados à então gloriosa inquestionável e única Universidade de Coimbra, agora não mais do que a mais antiga, dada a proliferação de Escolas, de Faculdades e de Academias privadas que têm por si o mesmo objecto, o mesmo sentido, respeitando e transmitindo os mesmos valores que esta alma encerra.

Falar de Fado de Coimbra como força académica é hoje falar de todas as Universidades nacionais e mesmo internacionais se levassem à letra as influências da música espanhola e latina como “as tunas”, que assim e muito bem chamaram a si no meio académico o seu direito.

Vivendo na primeira pessoa toda esta conturbação mais recente, desde os anos 80, urge por um lado deixar um testemunho escrito e discográfico fidedigno de mais uma etapa, de mais uma fase, de mais uma identidade destes tempos e destas vivencias académicas.

Relembro que a dado momento se negou a palavra Coimbra na Academia do Porto, criaram-se temas a exaltar a Nossa Academia, procurou-se uma variante baladeira, mas ao mesmo tempo, vozes permaneceram com um respeito profundo pela sua origem e identidade.

Por um lado vozes como Dr. Luís Góis, apresentavam essa pequena variante, a quem chamaram e quiseram diferençar como “Canção Coimbrã”, ou aquilo a que chamávamos de “bíblia” com as gravações e compilações de António Portugal, António Brojo ou outros, numa perspectiva de recolher as mais profundas raízes e mais significativas características da música de Coimbra.
Por outro lado e numa luta por vezes pessoal e “dom Quixoteana", sempre defendi por um lado a evolução deste tipo musical, por outro, a defesa da verdadeira procura das origens a da evolução deste estilo ou variedade de estilos.

As conclusões formas claras:

Há sem duvida um estilo próprio na forma e na interpretação deste tipo musical, no trinar das cordas, no canto, na diversidade de interpretação, nos ritmos e nas métricas - “o Fado de Coimbra”. Há sem dúvida momentos definidos que marcaram a diferença e que levaram características próprias do fado e muito particularmente deste tipo de fado – por exemplo, a geração de 60 e 70.
A geração de Edmundo Bettencourt e António Menano ou mais tarde Zeca ou Adriano Correia de Oliveira, ou ainda mais tarde reconhecido pela sua variante e especifica forma de cantar e compor Dr. Luís Góis, ou porque não chamarmos a nós, um novo tempo, um novo marco, pela diferença ou apenas pela vontade de recolher e valorizar a história e a origem deste estilo musical.
Na geração dos anos 80, ressurgindo em todas as academias o fado que se julgava ou perdido ou encerrado numa única academia, ganhou uma nova dinâmica e projecção. Por isso podemos chamar até nós o tal direito de contribuir para esta história com um capítulo.

Se entendermos hoje com alguma distância a vontade dos “velhinhos” em manterem acordados os sentimentos por esta música, ou as escolas criadas de ensino para a guitarra ou a voz, ou até a possibilidade de a perpetuar com mais facilidade em registos discográficos, são fenómenos irreversíveis. Finalmente, levando este estilo a um nível para além do círculo universitário mas não menos perigoso porque facilmente deturpado e camuflado em sub-estilos ou tendências, esquecendo a verdadeira origem e carácter deste estilo musical.

Hoje, cantando com aqueles que viveram na primeira pessoa algumas gerações marcantes da vida académica, como Paulo Alão ou, conhecendo o meu amigo Dr. Luís Góis ou outros tantos e muitos que em histórias e conversas banais e circunstanciais, penso ser o tempo e ter a responsabilidade de convocar uma reunião magna musical e nesta, registar aquilo que pensamos ser realmente o reflexo, a imagem, a identidade de um estilo a que sem querer patentear, lhe chamaremos de Canção de Coimbra com toda a coragem e convicção, sem negar aquilo que é e sempre foi…
o “fado de Coimbra”.
A canção que vem do mais popular e do mais erudito e que conjuga em si o maior numero de variantes e sub-estilos sem por isso ter deixado a sua identidade própria.
Atrevo-me até a fazer vingar e chamar a nós os direitos que o Fado de Lisboa usurpou, desde a utilização da guitarra e da sonoridade muito própria da guitarra de Coimbra afinada a um tom abaixo, o braço mais comprido que solta as cordas numa melodia menos estridente, a forma de cantar mais simples e arrastada, ou o trinar das cordas mais lento, doce e meigo sem rebuscados barrocos, uma forma de cantar e interpretar menos fatídica e rebuscada que os novos artistas consagrados tem levado aos circuitos comerciais, e por fim, a dimensão desta música (o Fado de Lisboa) como identidade nacional mas que nós (os da música de Coimbra) gostamos dizer que também a nós se deve nas nuances encontradas no fado de Lisboa e que em muito vão buscar ao fado de Coimbra, ou melhor, à música coimbrã.
(nuno oliveira m, em memorias escritas. Coimbra no coração)

O projecto

O projecto preconiza uma viagem pelo Fado enquanto estilo de canção, pelas suas origens até a novas tendências de o cantar e ver eternizado, passando pelos vários momentos e gerações, pelas tendências e pela presença de Individualidades musicais que o marcaram e o identificaram.
A propósito de uma homenagem, o projecto ambicioso e com subtilezas pedagógicas, é algo mais alargado do que um simples espectáculo. Queremos ver materializado num registo discográfico o que tem sido e do que é a música de Coimbra no panorama nacional, cantada pelas gentes do Porto.

O evento

O evento esconde assim todo um conjunto de acções que possui três vertentes bem definidas:

Pela preparação dos grupos que irão intervir e variadíssimas acções, quer de rua quer de promoção do evento, levar a uma leitura e projecção do que é a canção de Coimbra. Cantando, tocando mas acima de tudo explicando e levando a viva voz a alma do projecto e por isso cumprindo os propósitos deste projecto, desta música e deste povo.

A homenagem a duas personalidades que contribuíram para a identidade que nos referimos, num concerto que se pretende memorável, deixando registo deste como um marco para a geração vindoura. O reconhecimento público destas duas personalidades, vem reforçar a ideia que, de facto, marcaram a identidade musical mas o mesmo tempo contribuíram para algo que extravasa a própria música e a própria academia de Coimbra. Estas duas personalidades, deixam registos e deixam a diferença e pela diferença, deixam e apontam uma corrente forte para o que venha depois.

Numa perspectiva pedagógica, por ultimo e principalmente, pelas variadas alterações ao nível quer social, quer académico, seja pela conjuntura nacional, seja pela adaptação ao tratado de Bolonha respectivamente, urge deixar um registo mas ao mesmo tempo criar estas actividades variadas ao longo do ano de 2009, resultando num acordar de valores, de dinamismo, usando a música para tal, em prejuízo do adormecimento e alienação que sentimos nos últimos anos na vida académica.

O Porto e sua identidade

A academia do porto tem tido um papel importante na continuidade e tem mesmo revelado um papel preponderante e de liderança, preservação e divulgação dum conjunto de tradições, muitas vezes mal entendidas, logo mal vistas. É desta posição de liderança e preocupação com um património único e parte duma identidade lusa vincada, que surge este projecto. Muito embora seja titulada com “Antologia do Fado de Coimbra”, não deixa de fazer sentido ser realizada no Porto, não saindo diminuído pela designação, mas engrandecido pelo seu desígnio de independência nacional tão propalado desde os primórdios da sua existência. É com vista a esta identidade forte e com o carácter que o Porto sempre soube mostrar que se propõe realizar este evento ímpar no cenário musical, cultural e histórico no país.

A homenagem


Um espectáculo em forma de homenagem a duas personagens que marcaram esta identidade e esta característica muito própria.

O Dr. luís Góis, marcou sem dúvida como compositor, como intérprete, como poeta, musicando letras que fugiam à quadratura de um tema clássico ou com a sua letra profunda, por vezes irónica, por vezes reflexo poético ou de identidade nacional.

O Dr. Camacho Veira, porque sendo um elemento fundamental para a academia do Porto é para nós uma verdadeira referência e uma constante presença e nos novos personagens da música Coimbra no Porto.

Recuando às raízes mais profundas do Fado podemos encontrar os dois elementos que definem este estilo, esta identidade: A Música e a Alma.

A Música é um meio sempre utilizado para expressar sentimentos, formas de estar, por vezes de revolta, por vezes de simples reflectir um estado de alma.
A Alma, porque em musicalidades como o fado ou a morna cabo-verdiana, ganha um sentido mais expressivo. A música quando interpretada, quando pausadamente ou com ritmos variados torna a letra mais entendível, mais valorizada, mais expressiva, por vezes até teatral.

A música popular como o folclore, os cantares alentejanos, uma balada, uma música de intervenção contra um regime vigente ou apenas um reflexo de um sentimento colectivo em que a música ganha força de expressão, ou ainda outras sonoridades, vem contar a história de um povo e resumir ou trazer a si toda esta complexa teia de influências e de inspirações na Canção de Coimbra.
“Muito se cantou e encantou nos portais das casas rústicas, nas eiras, a caminho das romarias, na monda dos trigais e na apanha da azeitona. Um leque tão diversificado de melodias que, de acordo com as recolhas feitas pelo ilustre conterrâneo Dr. Jaime Lopes Dias, podemos agrupá-las em quatro grupos: no primeiro, descantes, o que é cantado em coro acompanhado por instrumentos típicos da região (o adufe, os ferrinhos, zamburras etc...). No segundo, Jogos de roda e modas de bailar, danças de grupos à semelhança do nosso folclore. No terceiro: canções de romaria ou referentes a ciclos tradicionais de culto, algumas dedicadas a Santos e à Virgem, por vezes misturando-se o religioso com o profano. Por ultimo: um conjunto de canções que não se enquadram em qualquer dos tres tipos anteriores, como é o caso das canções alusivas ao trabalho, as janeiras, as alvissaras, etc."
In Enciclopédia Universal Mutimédia da Texto Editora (1997

A guitarra ou o piano, a viola ou novos instrumentos trazidos ou levados para o fado, ressaltam, elevam, reforçam sonoridades às vezes até retirando a genuinidade da origem ou por vezes um melhor desempenho e imagem do que é mensagem cantada e tocada.

Por fim e num parágrafo quase em resumo, aquilo a que se chamou de Fado de Coimbra não é mais do que o levar e trazer de canções de todo o território nacional em que os estudantes que de deslocavam a esta cidade de Coimbra adaptavam, transformavam, sonorizavam acompanhados de um guitarra ou de um viola criando assim um novo e diferente estilo.
Assim surge uma amálgama de temas e variantes, de influências sonoras que vão desde o folclore, às cantigas alentejanas, ou a canção açoriana. Uma balada trazida por outros autores como Rosalia de Castro que eternizou “cantigas para os que partem”, ou como já referimos, o “lago do breu” ou outro tema de Zeca Afonso.

É nesta panóplia de diversidades que se enquadram os homenageados. Cantaram temas de várias influências, marcaram gerações, criaram um estilo próprio, ou pela sua dedicação e entusiasmo, fizeram do fado de Coimbra, um reflexo, uma imagem de uma identidade nacional.

O Dr. Luís Góis, cantou, versou e musicou temas com esta multiplicidade de influências. O Dr. Camacho Vieira cantou e exaltou temas e gerações e de uma forma muito calorosa, sempre esteve presente e apadrinhou a Academia do Porto, motivo pelo qual lhes dedicamos esta singela e simbólica homenagem.
O programa

É no sentido exposto que preconizamos um concerto em que à volta do Fado de Coimbra a que preferimos chamar de Canção Coimbrã, contam uma história, “Uma antologia do Fado de Coimbra”.
Uma história de um povo e de culturas, em que através da música se expressam. Uma história do fado de Coimbra como meio, como instrumento característico de fundir e reflectir essa identidade. A história em si do espectáculo que prevê fazer o público viajar por várias sonoridades, várias formas de ler e ouvir esta música característica e por fim desenhá-la e entender o seu desenrolar na história das histórias que o espectáculo conta.
Começando com um rancho folclórico cantando um tema popular, tema que logo se transforma num Fado de Coimbra, tocado segundo a forma de trinar (Vibrar) as cordas de início de século.
Um grupo de cantares alentejanos dá o mote para uma balada que se eternizou no Fado de Coimbra.
Uma mesa e uma carta escrita, numa mensagem do autor para a mãe musicada mais tarde para a Canção de Coimbra.
Um tema cantado e interpretado por variadíssimos artistas em várias sonoridades e estilos como a estrela d’ alva.

Um tema clássico musicado para guitarra, numa variação que exalta os sentimentos, o trinar e o dedilhar de uma guitarra.
Um poema escrito por Manuel Alegre na noite em partia para o exílio e mais tarde musicado para uma balada.
Um tema que exalta o ambiente eternizado pelo Dr. luís Góis.
Ou porque não, temas que marcaram a geração do pré e pós 25 de Abril na voz de Zeca Afonso ou Adriano Correia de Oliveira, entre outros, agora interpretados pelos outros e nossos novos valores como é o caso dos grupos aí presentes.
Por fim a presença de variantes e de novas formas de cantar e exaltar o Fado de Coimbra.
Este é o mote e o alinhamento previsto para o evento a realizar na casa da música e no coliseu presente ano de 2009.

Por outro lado, inúmeros artistas, vão desenhando nas ruas do porto, nas televisões, nos acontecimentos sociais públicos e privados, em vários momentos e posteriormente numa projecção do projecto para alem da data anunciada e culminando no final de 2009 na apresentação publica do registo discográfico em CD duplo e DVD de todo este projecto.

O evento. Alinhamento

1 - Rancho folclórico cantando um tema popular, que se transforma num Fado de Coimbra.
2 - Grupo de cantares alentejanos dá o mote para uma balada que se eternizou no fado de Coimbra.
3 - Carta escrita, musicada para a música de Coimbra.
4 - A presença das tunas interpretando tema como estrela d’ alva.
5 - Tema clássico de musicado para a guitarra
6 - Poema escrito por Manuel Alegre e musicado por Adriano Correia de Oliveira.
7 - Temas de e por Dr. luís Góis e Dr. Camacho Vieira
8 - Temas que marcaram a geração do pré e pós 25 de Abril, em toda a história do fado de Coimbra.
9 – Presença de artistas e grupos convidados para a interpretação de temas intemporais da musica de Coimbra.
10 - A presença de variantes e de novas formas de cantar e interpretar o fado de Coimbra.

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