sábado, 14 de março de 2009

Contexto do Fado de Coimbra no Porto

Conotado com a Academia de Coimbra, tendo esta sido de facto o espaço e tempo onde surgiu o fado de Coimbra, este estilo musical não é mmais do que uma transmutação de vários tipos de musica cuja “alma mater” varia desde as sonoridades mais populares às mais eruditas.
Dado o percurso curricular de diversos cursos passarem pela cidade do Porto, essencialmente no final dos mesmos, por exemplo os cursos de engenharia e de farmácia, verificou-se uma migração das diversas tradições estudantis. Nessa amálgama de costumes inclui-se a música de matriz coimbrã, expressão usada pelo Dr. Luiz Goes, que se deu a conhecer ao mundo como Fado de Coimbra. Essa música que transpõe as origens dos diversos estuantes para um local, cujo sentimento mor é a saudade, vai sobreviver ao longo dos tempos numa penumbra marginal ao resto da sociedade, passando a ser um estilo musical quase específico do micro cosmos universitário.
É nos anos sessenta do século passado que a música de pendor intervencionista invade o universo do Fado de Coimbra e transforma esta manifestação musical peculiar, num meio de contestação privilegiado. Durante o período de proibição de eventos estudantis, luto académico, as serenatas deixaram de se fazer e houve um período de letargia em que se deixaram de fazer qualquer “manifestação estudantil” de pendor cultural.
É já após a queda do antigo regime e no final da década de setenta, que surge no Porto, devido essencialmente às particularidades dos diversos cursos que levaram os alunos que estando a realizar no Porto o final do curso e trazendo as vivências de Coimbra. Criou-se então um movimento com sede na Cidade do Porto, que reiniciou todo um conjunto de tradições adormecidas entre elas as serenatas.
Sabemos da introdução da guitarra pelo porto através do comércio do Vinho do Porto e por intermédio dos ingleses. Curioso seria referir a existência nos anos 40 do século passado de uma afinação própria da guitarra criada e utilizada no Porto, que se deixou de utilizar e se perdeu nas brumas da memória. Tendo em conta todos estes factos na deixa de fazer sentido realizar-se este conjunto de iniciativas na Cidade do Porto. Não querendo subtrair ou minimizar qualquer contributo ou origem da “música de matriz coimbrã”, ao fazê-lo estaríamos a reduzir um património intemporal e nacional a uma mera manifestação cultural de âmbito local. É com a ambição digna da responsabilidade que este marco cultural encerra que é realizado no Porto que contribuiu de forma inequívoca para a sua preservação.

Victor Serralva

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